quinta-feira, 30 de abril de 2015

Estado

Delacroix - A Liberdade Lidera o Povo (1830)

Só tenho a dizer uma coisa em relação ao Estado: o primitivismo de vossa diplomacia remonta à Idade das Pedras. Vós vos confirmeis poder enquanto seres dominados e idiotizados por vossa máquina de crenças estiver ativa e usar da morte e da violência o principal argumento contra aos que arrebanhais cidadãos.
Meto o dedo na garganta e vomito em cima de ti Estado, fruto de dores que pisoteia a humanidade há milênios. Vós sois o câncer social, a degeneração dos princípios básicos de todo o bom convívio. De vós só a torpeza, só o engano.
Distribuis migalhas e recolheis para vossas falanges a quase totalidade do pão. Manipulais e fazeis dos vossos filhos escravos.
Vós sois o mais torpe dos pais, pois não repartes pães, mas pedras; não aplacas a sede, mas privas a liberdade imputando taxas à água que é essencial à vida.
Sois, enfim, nada mais que o braço armado do anticristo.

S. Quimas

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Quem sabe?



Quem sabe, eu esquecesse todos os que passaram pela minha vida?
Quem sabe?
Quem sabe eu não escrevesse poemas, se isso é o que escrevo?
Quem sabe?
Quem sabe amanhã eu não renascesse?
Quem sabe?
Quem sabe outro e não o eu mesmo?
Quem sabe?
Quem sabe a poesia seja um veneno
Que atormente minha alma
E eu só a faça por loucura que me domine?
Quem sabe?
Quem sabe que agora seja tudo, ou nada seja?
São tantas as dúvidas que trespassam a mim!
Quem sabe se eu sou o embaraço
Dos todos os momentos que vivi?
Quem sabe?
Eu não.

S. Quimas

Esvair

Por do sol


Quem puder, siga.
Quem não, aguarde.
Quem for dia, nasça.
Quem não,
Seja tarde.
Ainda possam todos
Serem noite e estrelas,
Manto negro e luzes.
Sonho e viver
O que há.
Sejam alimento do vazio
De uma vida a alimentar.
O poema não tem fim,
Rompeu-se a inspiração...
Morreu em mim
Qualquer razão
De assim continuar.
Se foi e eu a desejo,
Não pelos versos,
Não por isso,
Mas porque me sinto vivo
Pelas bobagens que digo.
Contudo, deveras tudo passa.
Acharei desse momento
Imensa e total graça,
Apesar do pranto
Que nem choro,
Pois choraria
Se todas as minhas lágrimas
Não se tivessem em deserto
Copiosamente se transformado.

S. Quimas

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Filosofia

Calvin e Haroldo


Tenho amigos filósofos e eruditos, mas não pensam nas pessoas que saem na madrugada com a marmita na bolsa.
Eles têm teorias estranhas ao dia a dia desta gente. Eu lamento.
Para o Inferno a filosofia se não presta para elevar.
Boa filosofia é aquela que se assimila e transforma, que alça a uma condição superior. Toda outra não é ética. A filosofia se esqueceu disso e só se faz um brinquedo de palavras, a mais pura erudição.
Mente brilhante é aquela que transforma a si mesmo e reverbera em amor ao mundo e o traz a um nível superior.
Não há desculpa à preguiça, mas menos à prepotência de uma intelectualidade vazia, que se mostra tipicamente arrogante.
A genialidade está em sobreviver num sistema que mata. O Universo é estrela que engole outra, galáxia que traga outra. O Todo é voraz. As pessoas só se preocupam com a rede que saiu do ar. Falo dos classe e mídia, não dos famintos e deserdados, dos reais aflitos.
Canso a todo mundo. Sou assim, um cansativo.
Levem-me suavemente nas costas, antes que o mundo que ignorem depositem seu peso.

S. Quimas

Viver Apenas

Calvin e Haroldo


A maior escola da vida é cada minuto vivido, é o texto de nossas vidas que escrevemos, nem sempre com grandes pensamentos filosóficos e com palavras tão assim muito eruditas. Contudo, é o livro que a nós é possível.
A grande compreensão é não deixar páginas em branco, ainda que elas descrevam momentos terríveis.
Viver é acima de tudo: viver-se e se ser completamente apaixonado de si mesmo, amante o mais fiel possível.
Possa um olho nos faltar, mesmo possa a completa visão, mas não o sentido da existência. Viver é viver apenas, essa a missão. O restante é consequência.
Amanhã o sol nasce e se põe, vem a noite. Você é responsável por cada instante, sua vida é sua decisão.
Há algemas, jaulas, impotências... Porém, também há como escapar. O seu pensamento é o limite. A guerra finda quando um dos lados se entrega. Seja vencedor. Viva completamente. Assim não perderá nada da maravilha que é seu existir.

S. Quimas

domingo, 26 de abril de 2015

Caleidoscópio

Gustave Doré - Don Quixote


Porque eu não sou essência,
Sou o que sou,
Eternamente possibilidade.
Desconheço a mim mesmo
A cada momento que vivo,
Pois sou em cada um, outro.
Poesia que não termina,
Verso em um caleidoscópio.

S. Quimas

Sou eu poeta?

Wilk Wieslaw - Marinha


Sou eu poeta?
Por quê?
Declaro sonhos em linhas?
Falo nos meus escritos de delírios?
Já não sigo rota,
A nau da minha vida se perde.
Praia ou porto não diviso
E o oceano sem fim
É todo o meu destino.
Quisera eu contar grãos de areia,
Ou ouvir o som de meus pés
Nas tábuas carcomidas de um cais...
Minha alma não repousa
E adormeço na tempestade de meus pensamentos.
Não me admite repouso a vida,
A tormenta é minha constância.
Tenho timão à minha mão,
Mas me falha a bússola.
Perdi o norte.
Quem sabe, um dia tenha
De volta a sorte
De reencontrá-lo.
Frente a mim apenas uma xícara,
Nela o café fumega.
Penso nos vapores
E na vulnerabilidade da vida:
Agora estou aqui,
Daqui a pouco não permaneço.

S. Quimas



Grito

Antony Gormley: Drift 1, 2007 / 2012


Quando eu calo,
Aí que tudo eu grito.
Meu silêncio são palavras,
Não o que não digo,
Mas tudo o que tenho a dizer.

S. Quimas

sábado, 25 de abril de 2015

Sou no mundo um infame

Madrigal - S. Quimas


Sou no mundo um infame,
Já não me leem, pois sou poeta do abjeto.
Minha poesia é só cicatrizes,
Punhais perfurando a carne.
Já na falo de flores e coisas agradáveis,
Amenidades que consolem.
Minha poesia se transformou em um vazio imenso,
Maior que minha conduta.
Da poesia ainda se salvam versos,
De mim mesmo mais nada.
Ando pelas ruelas, pelas sarjetas,
Como um cão sem destino,
Um completo arruinado.
Tenho medo de ser reconhecido
E ser apontado:
"Vê aquele, quem diria? Acabou!".
Vivo overdoses da minha falta de sabedoria,
Do meu nefando destino,
Do qual arrimo de mim mesmo não sou.
Sou, sim, um descontínuo,
Gênio da mais erudita contradição.
Faço versos, brinco de ser poeta,
Que nunca fui e jamais serei.
Sou rei. Rei da tirania de minha alma,
Louco deveras, um câncer que se apossa
De uma vida que não vivi,
Já ela nasceu abortada.
Faço da arte uma divisa
De tudo que não tem sentido.
Meu sofrimento?
Tem o tamanho do mundo.
E eu aqui, sem mim,
Sem meu abrigo.

S. Quimas


quinta-feira, 23 de abril de 2015

Não, não sou






























Não, não sou,
Anjo que tem asas,
Mas caminhante da estrada.
Arremedo de poeta,
Ser de visões tantas,
Mas não profeta,
Mais para caboclo
Que tira do rio areia.
Não discípulo
Num quadro de Santa Ceia.
Ridículo em rimas,
Perdoe-me as estrofes,
Pretensão não tenho a ser
Nada que comigo
Não tenha a ver.
Português, minha língua,
É uma descomposição,
Não há nada em mim
Que seja lógica,
Menos ainda razão.
Sou apenas o que sou,
Um revirar de vermes.
Que a luz seja amena
E simplesmente me deixe sobreviver.
Quem sabe um dia
Louve a todos vós?
De poema que soe belo,
Algo que valha.
Por agora, cresto na fornalha
De todo o meu ser.
Já não basta?
Ser que se debate na vida,
Chagas, feridas,
E assim segue e nada mais....
Inspiração, e nenhuma razão.
Canção? A pior de todas.
Risos e masmorras.
A vós, poesia.


S. Quimas

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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Terra

O Planeta Terra


Que teu dia, Terra, sejam todos, enquanto tiveres existência neste Universo, e que sejam infinitos.
Agradeço o teu abrigo aconchegante e o corpo que me tornou ser vivente na matéria. Tantas e imensas lições tenho desfrutado em teu aconchego. As tantas belezas que inundaram a minha alma e fizeram de mim um artista. Peço que me perdoe os limites do meu dom em representar a tua grandeza, mas sinta a minha simplória homenagem como uma oração à tua perfeição, rendido à humildade de te saber imensidão.
Tu foste a Mãe querida de todas as minhas gerações que me precederam, de muitas vidas que aqui vivi, e em teu seio receberás as minhas gerações que virão.
Que tua glória perdure e o Amor seja teu reino. Obrigado, minha Mãe maior.
Receba de mim o meu abraço e o meu amoroso beijo.

S. Quimas

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terça-feira, 21 de abril de 2015

Quando a cocada não é preta

A Terra e a Lua


Sinceramente. Sou Anarquista, mas para quem goza com a derrota de um partido de trabalhadores, seja qual for, P (puta que pariu), tem por trás de si um sintoma de vingança e acha que empregada deve tomar elevador de serviço.
Não apoio corrupção. Se o PT é corrupto, que se apure e se punam todos os corruptos.
Não venho em defesa de estroinas. Entendam-me, como meus amigos de décadas me sabem.
Já que é para levantar o tapete e remexer a merda no barril. Quem não tiver culpa, que atire a primeira pedra.
Vamos desconstruir o Brasil. Fazer a empregada doméstica a Deusa do lar: ela limpa, arruma, cuida do filho.
Vamos valorizar os professores: eles educam uma maioria de topetudos que creem que o dinheiro dos pais é capim, como também, podem cobrir e dar um jeitinho em suas merdas.
Da mesma forma, vamos pagar bem médicos, vamos lhes dar uma faculdade decente, vamos os orientá-los para que não sejam sujeitos ao aliciamento de laboratórios, cujo único fim é lucro.
Que passemos valores para nossos filhos que garantam a sobrevivência do planeta e não essa coisa ignota que replicamos em nosso dia a dia.
Se não somos pela vida, então que se dane. Morra o planeta e que esta geração aprenda a ser menos parida pela informação, mas que seja cúmplice até o seu último suspiro, por seu discernimento.

S. Quimas

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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Ninguém tem direito sobre mim

Delacroix - A Barca de Dante


Ninguém tem direito sobre mim desde que rompi o cordão umbilical.
Antes eu era Universo, hoje sou controverso.
Nem estado, nem governo, a ninguém pertenço, senão a quem me deixe ser unidade, e só o AMOR me faz unir.
Não sou niilista, mas não mostro minha bunda para teorias de ser que não sejam as que eu vivo.
Dane-se a filosofia! Os livros repletos de coisas que falam de especulações de outros.
Quem sabe, se a Verdade não se pareça muito mais com uma criança que tenha ainda a descobrir, do que com um ancião que se julga sábio?

S. Quimas

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domingo, 19 de abril de 2015

Tem coisa e outra

Andrew Wyeth


Tem coisa e outra,
Gente vive de fé,
Que não passa de coisa,
Onde não pisa seu pé.
Tem coisa e devaneio,
Melhor a que me veio,
Inspiração oportuna,
Meu caixão, minha urna.
Meu corpo que se enterre,
Antes que se desfaça,
Assim esse personagem
Já não viverá a farsa.
Será poesia e lembrança,
Poética e retórica,
Palavras sem fim.
Que me amou, amou a mim,
Não o produto de minha arte,
Mas minhas loucuras,
Não o céu de meus versos
Tingido de nuvens e suas brancuras.
Amou a mim somente,
Também às minhas trevas.
Meus momentos nenhuns
E todos os outros.
Quem sabe de mim sou eu.
Outros também sabem,
Porém de algo.
Aqui agora, a tempestade desaba.
Que sabe, parta eu daqui,
Desse mundo nessa hora,
Sem nenhuma mágoa?
Meus versos são torpor,
Pura embriaguez.
Falo vezes de amor,
Amor um tanto,
De resto a minha alegria
Somente é pranto.
Há beleza, sublimidade,
Mas muito mais peso
De um lado que equidade.
Não é que reclame,
Não há mérito por um infame
Que ainda faça poesia.

S. Quimas

Nós apostamos na Eternidade

Calvin e Haroldo (Calvin and Hobbes)


Nós apostamos na Eternidade. Muitos de nós, outros não. Cada um segundo suas percepções.
A Quântica, hoje, medita sobre o propagar da consciência além do corpo físico, mas ainda é aposta, não podemos afirmar como fato científico.
As religiões vendem há milênios ilusão.
Seria melhor que todos abandonassem modelos pré-concebidos e adotassem posturas e vivências que nos trouxessem a possibilidade de sobrevivência, também incluindo à dos seres que partilham conosco este mundo.
Na dúvida, a melhor postura é garantir o devir. Melhor o cuidado de um bisneto do que a angústia devastante da ausência do amor e ligar a televisão e só ver cenas de animais domésticos, principalmente daqueles que consumimos como alimento, por nós eleitos o suprassumo da Natureza.
Será se viveremos em desertos e seremos uma civilização meio que "Mad Max". Quem sabe?
Livremo-nos hoje da ira de nossas gerações futuras por nossas decisões diabólicas. O Diabo não é o Capeta, mas os equívocos que patrocinamos e apoiamos todos os dias através de nossos comportamentos ridiculamente complacentes. Somos coniventes com a intoxicação, com a destruição, alienados. Bocas vorazes, absurdas. A vaidade e a soberba nos corrói. O egoísmo nos sepulta em nosso túmulo de prepotência. A Caixa de Pandora está aberta, é nossa insensibilidade.
O mundo se extingue e meu nome é Raimundo.

S. Quimas

sábado, 18 de abril de 2015

Tenha misericórdia de mim



Tenha misericórdia de mim.
Tenha misericórdia não pelos meus erros,
Mas minha petulância de achá-los acertos,
Por todas as certezas minhas,
Pela minha alienação e pelos muitos preconceitos,
Pelas falhas imensas de não agir
E ter me acovardado ante o óbvio,
Pela luta por meus próprios interesses
E abandono da consciência da Totalidade.
Tenha misericórdia, pois falho naquilo que sou maior,
Em tudo o que sou grande
E, principalmente, por desconhecer os meus limites
E não ter a necessária humildade
De ajoelhar perante a pequenez que sou
Frente à infinitude do Universo e toda a sua idade.
Misericórdia para com os meus vícios e costumes,
Para com a miséria de meus saberes,
Para com a inglória luta contra meus deslizes contumazes.
Misericórdia para comigo apenas,
Pois que não sou digno dos dons que recebo,
Das horas que vivo,
Nem sequer das dores e angústias que sofro e passo.
Misericórdia, jamais me tire o poder
De ver na flor beleza
E em mim esperança, jamais.
Que continue em minha alma gritando música e poesia.
Que meu ser seja parido arte,
Ou me devores e me destrua para sempre.
Prefiro o Nada
A existir sem sentir...
Nem que seja o punhal,
Pois do fio teço tramas
E mil incontáveis histórias.
Que eu padeça da loucura para sempre,
Mas que da vida todas as glórias,
Seja eu capaz de representar.
Ainda que farsa, que sonho,
Luz, ou sombria escuridão,
Mas que jamais se cale
De versos o meu coração.

S. Quimas

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terça-feira, 14 de abril de 2015

Se eu acaso esquecer o teu nome,

Rosas (Autor desconhecido)


Se eu acaso esquecer o teu nome,
Ainda restará a metade
Do meu coração por ti furtado.
A memória, posso perdê-la,
Mas não a parte de mim
Que se vai então contigo.
Cuida, pois posso
Querer me reencontrar.

S. Quimas

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Não quero outro quinhão deste mundo

An Jung-Hwan - Florestas silenciosas



Não quero outro quinhão deste mundo
Senão as memórias que trago,
Que minha alma não fique
Vazia de recordações;
Sejam boas ou más,
Mas que viva o torpor
De ter vivido.
Que me alucine de realidades
E delas se despeça,
Como alguém que parte
Para outra aventura viver.
Que de mim não sobre rastros,
Porém minha poesia.
Que possa ela
Em um papel coberto de manchas
Fazer sentido daqui mil anos,
Que se desmanche nas mãos
De quem o tocar
E que seja para ele ou ela,
Um momento único.
Que guarde o sentimento,
Não a forma, ou as palavras.
Que tudo se vá,
Mas que permaneça em si
Eternidade.

S. Quimas

sábado, 11 de abril de 2015

Tem um doce silêncio em teus gestos

Sophia Loren



Tem um doce silêncio em teus gestos,
Não são música, se dela são, são pausa,
Interregno de execução, lapso na melodia,
Suspensão e desejo de prosseguir, atração.
São notas não descritas, símbolo declarado
Da ânsia que por completo me invade,
Sol que prenuncia em nascer
Numa aurora que talvez viverei, ou não.
Renúncia à verdade do meu tempo,
Eterna possibilidade.

S. Quimas

quarta-feira, 8 de abril de 2015

A simples renúncia de teu gesto é silêncio



A simples renúncia de teu gesto é silêncio,
Acabo-me em teus risos.
Tua face é suspirar,
Não do amor que sinto,
Mas acredite-me por vê-la.
Há gestos e não sei as incertezas.
Como saberei?
Deixe a mornesa dos mistérios,
(Construí para ti palavra nova),
Quando de bêbado
Mijo nas calças.
Que poeta já te falou tão reto?
Quem te deu tanto?
Eu não fui. Não eu.
Pois, simplesmente,
Não importo.

S. Quimas


Ela se foi

Modesto Trigo - O Nu


Ela se foi,
Desfez-se como um laço,
Laço que envolvia
Como um abraço
Que eu jamais deixaria.
Foi-se e mais nada.
Assim, simplesmente,
Estrada em que não sopra vento,
Não levanta poeira.
Não há dor na partida,
Não há sol que creste,
Não há.
Foi-se.
Não há dor,
Pois para senti-la
Ainda comigo meu coração permaneceria,
Mas levou.
Foi-se.
O que resta de mim
É trovoada sem chuva,
Promessa jamais realizada.
O que inunda minha alma
Não é desejo nenhum,
Todo desejo se perdeu.
Lapso do tempo,
A poesia morre,
Flor abortada,
Alma desgarrada
Daquilo que não viveu.

S. Quimas